quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Capítulo 2: The greenest gray eyes I've ever seen.

Ela andava pela avenida mais larga da cidade. A cabeça levemente inclinada, como se se desculpasse de algo, mas os passos... os passos eram sempre maiores que ela. Maiores que as suas pernas. Em apenas um deles poderia caber o mundo todo. E andava.

A cada passo ia se lembrando de tudo, como num quebra-cabeça. Porém, faltava uma peça. Uma peça que ela conhecia muito bem, bem até demais. Conhecia todos os seus trejeitos e suas manias, o jeito de rir e o jeito de andar. Andava como se passasse por cima de todos os problemas do mundo. Sua expressão, impassível. Seus pensamentos, indecifráveis.

E ela se lembrava, como lembrava. E olhava pros lados pra ver se não o encontrava num café qualquer, ou naquela livraria, mesmo sabendo que ele não gostava muito de ler. Ah, como queria encontrá-lo. Só pra falar um oi, talvez, conversar amenidades e sossegar o coração. Mas não podia. Ela não podia.

Em cada passo seu, deixava transparecer os inúmeros sofrimentos, as inúmeras noites em claro. Inúmeras lembranças que a presentearam com uma única característica: amor próprio. Porém, como era difícil lidar com isso agora, quando tudo que ela mais queria era atirá-lo na primeira lata de lixo que surgisse, e dizer todas as coisas que estavam sufocando-na dia após dia. Queria dizer que sentia muito, que a culpa era dela. "if I miss you, well, that's my fault". Mas não podia, não podia. E andava. O peso nas costas, o gosto de lágrimas no lugar de beijos intermináveis, o nó na garganta. E andava.