domingo, 27 de julho de 2008

O Quarto.

...e não se vá deixar morrer assim, tão cheio de vida!

Sentou-se ao pé da cama, e pôs-se a observar o quarto. O armário, os muitos livros que tanto a acolheram, "como aqueles velhos amigos que a gente pode passar mil anos sem falar,e eles vão continuar lá pra nos ajudar, sabe?" a guitarra e o violão. O violão que suportou o peso de mil lágrimas, e as escondeu entre seus acordes pra fazê-las mais felizes.

Reviveu os momentos de cada uma das fotos da cabeceira da cama, e recordou com paixão de cada uma das músicas daqueles vinis dos Beatles que ela tanto amava. Folheou a edição de bolso do Manifesto, e se surpreendeu mais uma vez com os problemas do mundo. Sorriu pra foto do Conor que estava sempre do lado da escrivaninha, como se dissesse obrigada, por tanto lhe entender e pôr em palavras tudo que sentia.

Olhou para a caixa de recordações, sempre ali de plantão pra não deixá-la esquecer jamais da delícia de ser criança, e da tamanha transformação que passara de alguns anos pra cá. E entre os tantos bilhetes, desenhos, e o potinho com todos os dentes-de-leite, estava a carta. A carta que lera tantas vezes, procurando arrancar mais algum detalhe escondido, como se disso dependesse a resolução de seus problemas. Releu-a, como se fosse a última vez. E foi a ultima vez. Descobriu que não havia nada a desvendar, que o papel amarela com o tempo, a tinta desbota, e as lágrimas secam. Todas elas.

Vá sentir que viver é mais que pensava.
Larga mão de sofrer a mais, tudo passa.
A estrada não tem fim.