domingo, 3 de janeiro de 2010

Hummingbird

Ela era diferente. Do alto de seus cabelos castanhos até as unhas dos pés pintadas de vermelho, ela era diferente. E tinha os olhos mais verdes que já vi. Não sei quantos anos tinha, mas não eram muitos. De onde veio, não sei dizer. Trabalhava num daqueles cafés pequenos do centro da cidade, onde o proletariado se reunia antes de começar o expediente. Eu era um deles, e foi assim que a conheci.

Quando a vi pela primeira vez, senti algo estranho naquele olhar, sem saber o que era. Quis abraçá-la. Contive meus impulsos e me limitei a agradecer o expresso que ela havia trazido.

No dia seguinte, voltei. Não sei por que fiz isso, existem muitas opções por ali. Mas algo naquelas paredes azuis levemente descascadas parecia exercer uma espécie de magnetismo sobre mim. Ao entrar, já a avistei. Sorri pra ela, que me retribuiu com o mesmo olhar do dia anterior. Tinha passarinhos aprisionados naquele olhar, tenho certeza. Tomei meu café e fui embora.

No outro dia, nem hesitei. Rumei decidido, me sentei e fiz meu pedido, enquanto observava aqueles dedos finos correrem de lá pra cá no bloquinho para anota-lo. Pareciam tão frágeis. Parecia tão frágil. Quis abraçá-la.

Dessa vez, não esperei até de manhã. Ao fim do expediente, corri para o café. Encontrei-a com as chaves na mão, prestes a fecha-lo. Segurei – a pelo braço, ela olhou pra mim. Pude ouvir os passarinhos cantando. Sorriu e se foi.

Na manhã seguinte, já não estava mais lá. Perguntei para todos sobre passarinhos, e um par de olhos tão verdes sem nome. Ninguém soube me responder. Ao sair, um beija-flor pousou no meu ombro. “Remember to remember me, standing still in your past, floating fast like a hummingbird.” E sorri.