domingo, 24 de agosto de 2008

Pensamentos Soltos.

"Então me vens como o vento, e me adentras pela fresta da única porta que havia esquecido de fechar. E me invades, sem pudor algum, e bates em meu rosto, e expões minhas feridas. Depois me deixas, coberta pelo véu das lembranças que arrastaste enquanto te ias."






E se me perguntarem por que escrevo, direi que é pra preencher com palavras a metade que levaste de mim.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.


Manuel Bandeira

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Felizes sejam.

Ela sempre fora assim, diferente. Sempre estivera fora dos padrões. Talvez por isso tivesse cultivado um complexo de inferioridade imenso. Afinal, todas as pessoas que conhecia eram diferentes dela. Todas tão iguais. Todas tão cruéis. E ela não era assim. Passara a vida toda sofrendo por causa dessas pessoas. A vida toda com sua auto-imagem sendo atirada aos porcos. Até que o conheceu. E ele fez tudo mudar, como num passe de mágica. Ele não era como aquelas pessoas, ele gostava dela pelo seu coração, ele também sofrera com a superficialidade do mundo, ele a amava. E ela passou a se amar também, e descobriu-se cheia de qualidades.

Mas as coisas estavam boas demais pra se manterem assim pra sempre. Algo a dizia que uma hora ou outra tudo iria desandar (intuição talvez). E desandou. Por fim, ele era como as outras pessoas. Su-per-fi-ci-al. A wolf in a sheepskin coat, como na música que ele mesmo a mandara.

E tudo voltou a ser como antes. Seu complexo voltou, mil vezes pior. Talvez a alegria de ter sido amada devia ser paga com uma dose extra de dor. "Quem foi mesmo que disse que não podemos ser felizes demais? Talvez estivesse certo..." Felizes são os superficiais, tão preocupados com suas aparências, evitando pensar demais (pois é certo que quem pensa, sofre mais), e fugindo sempre da dor que provém do simples fato de possuir um coração. Eles sim são felizes.