segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

29-12

i fell in love at the seaside.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Amor Retrô.

Conheceram-se num daqueles cafés pequenos do centro da cidade, apinhados de estudantes e trabalhadores com cara de sono. Conheceram-se e reconheceram-se imediatamente. Ela, com suas pilhas de livros e sonhos em preto-e-branco. Ele, com sua guitarra e o ar de superioridade que lhe caía tão bem quanto o cigarro estrategicamente colocado no canto da boca e os jeans apertados. E se apaixonaram.


Juntos completavam-se, e destoavam da multidão que passava todos os dias pelas ruas desgastadas da metrópole paulista. Ela lhe ensinava a gostar de cinema, e assistia com ele a todos os filmes do Godard, enquanto ele criava os mais belos acordes só pra ela. Ela lhe mostrava tudo sobre as vanguardas européias e os rumos que a arte tomara desde então, ele a fazia ouvir Pink Floyd de olhos fechados e as mãos entrelaçadas nas suas. E pensavam que era tudo o que sempre haviam desejado.


Até que um dia aconteceu. Uma briga, lágrimas e portas batendo. Ela foi embora e ele ficou, sentado no sofá vermelho que haviam comprado juntos. Ele ficou. Com o sofá, as pontas de cigarro, as lembranças, os vinis espalhados, e a casa vazia. Os dias que se seguiram foram como um pesadelo para ambos. Ela os compararia depois com algum filme surrealista que ele esqueceu o nome. Ele, com o fim dos Beatles.


Sem ele, ela descobriu que seus quadros perdiam a tinta.
Sem ela, ele descobriu que seus acordes saíam do tom.


Então ela voltou. Encontrou a porta aberta, como se nada tivesse mudado desde a última vez em que estivera ali. O sofá vermelho, os pôsteres do Warhol, os vinis e o cigarro. O coração dele estava ali, e o dela também. Encontrou-o sentado na cama com o violão na mão, brigando com uma melodia que insistia em não sair. Tirou o violão de suas mãos e o beijou como nunca fizera antes. E ambos souberam que era pra ser assim. Juntos.


Ele com suas escalas, semi-tons e sustenidos.
Ela com seus planos cortados, narrativas distorcidas e as pilhas de livros.

Juntos.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

da série: presentinhos de natal.

Sim, eu ganhei um poema de natal.
E quem fez pra mim foi o Enzo, meu irmão-mais-velho-postiço lá de Minas:

Maldita Gramática

Eu queria tanto
Enxugar teu pranto
Santo é o ofício de ajudar

Veja quanto espanto,
Ao lembrar, no entanto,
Diferentes advérbios de lugar!

Eu canto este canto
Pra diminuir um tanto
A dor de pensar

Que eu estou cá
E, em algum outro canto,
Você está lá!

domingo, 7 de dezembro de 2008

... Eu parado na porta às quatro da manhã. Você indo embora. Eu me perdendo então desamparado entre cinzeiros cheios e garrafas vazias. Você indo embora. Eu indeciso entre beber um pouco mais ou procurar uma beata em plena devastação ou lavar copos bater sofás guardar discos mastigar algum verso adoçando o inevitável amargo despertar para depois deitar partir morrer sonhar quem sabe. Você indo embora. Acordar na manhã seguinte com gosto de corrimão de escada na boca: mais frustração que ressaca, desgosto generalizado que aspirina alguma cura. Tocaria o telefone? Você indo embora, fotograma repetido. Na montagem, intercalar. Você indo embora, você indo embora.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"A presença do outro latejaria a teu lado quase sangrando, como se o tivesses apunhalado com tua emoção não dita. Tuas mãos apoiadas em bengalas mentirosas não conseguiriam desvencilhar o gesto para romper essa espessa e invisível camada que te separa dele. Por um momento desejarás então acender a luz, dar uma gargalhada ridícula, acabar de vez com tudo isso, fácil fingir que tudo estaria bem, que nunca houve emoções, que não desejas tocá-lo, que o aceitas assim latejando amigo belo remoto, completamente independente de tua vontade e de todos esses teus informulados sentimentos."


Caio F. Abreu

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Capítulo 2: As coisas tão mais lindas.

Ela sabia que não podia ouvir aquele CD. Não podia, de jeito nenhum. Ouvi-lo era voltar ás crises de choro, e ao nó na garganta já habituais, dos quais ela arduamente se recuperara. Mas ela gostava de correr riscos, e sem pensar duas vezes apertou o play. Sentiu imediatamente o gosto já conhecido e tão amargo na boca. Gosto de poeira. Gosto de nostalgia. As lembranças vieram logo depois, cada uma se postando em seu devido lugar, trazendo junto as lágrimas. As lágrimas. Ela sabia que elas não demorariam a surgir. E surgiram, manchando de vermelho seu rosto pálido e seus olhos tão verdes. Tão verdes, e tão vermelhos...
Ela já não saberia dizer.


As lembranças desfilavam em sua frente com a arrogância que só elas sabem ter. Porém, em seus rostos ela já não via mais que um borrão colorido. Percebeu que havia se esquecido de como era ouvir a voz dele, de qual era a textura de sua pele, e se esquecera até mesmo da risada tão bonita que ele costumava guardar só pra ela. Tentou se lembrar de cada detalhe, de cada beijo. Não conseguiu. Sentiu-se estranha, como se o sangue tivesse voltado a correr por todo seu corpo. Estava livre, afinal. Como se tivessem apagado de sua memória tudo capaz de lhe causar dor. E das lágrimas em seu rosto, em vez da poeira, só pôde sentir o gosto de sal. Seu coração era um lar, e ela teve enfim a certeza de que ele fora habitado de novo. Havia flores nas janelas, e haviam os olhos tão verdes. Tão verdes e tão cinzas...
Ela já não saberia dizer.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Capítulo 2: The greenest gray eyes I've ever seen.

Ela andava pela avenida mais larga da cidade. A cabeça levemente inclinada, como se se desculpasse de algo, mas os passos... os passos eram sempre maiores que ela. Maiores que as suas pernas. Em apenas um deles poderia caber o mundo todo. E andava.

A cada passo ia se lembrando de tudo, como num quebra-cabeça. Porém, faltava uma peça. Uma peça que ela conhecia muito bem, bem até demais. Conhecia todos os seus trejeitos e suas manias, o jeito de rir e o jeito de andar. Andava como se passasse por cima de todos os problemas do mundo. Sua expressão, impassível. Seus pensamentos, indecifráveis.

E ela se lembrava, como lembrava. E olhava pros lados pra ver se não o encontrava num café qualquer, ou naquela livraria, mesmo sabendo que ele não gostava muito de ler. Ah, como queria encontrá-lo. Só pra falar um oi, talvez, conversar amenidades e sossegar o coração. Mas não podia. Ela não podia.

Em cada passo seu, deixava transparecer os inúmeros sofrimentos, as inúmeras noites em claro. Inúmeras lembranças que a presentearam com uma única característica: amor próprio. Porém, como era difícil lidar com isso agora, quando tudo que ela mais queria era atirá-lo na primeira lata de lixo que surgisse, e dizer todas as coisas que estavam sufocando-na dia após dia. Queria dizer que sentia muito, que a culpa era dela. "if I miss you, well, that's my fault". Mas não podia, não podia. E andava. O peso nas costas, o gosto de lágrimas no lugar de beijos intermináveis, o nó na garganta. E andava.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O eterno ou o não dá.

Só queria que soubesses que me lembro de tudo. Com o maior carinho que consigo reunir dos destroços que me sobraram no coração. E me importo contigo, e te quero feliz. Mesmo tu me doendo tanto às vezes. Às vezes, o tempo todo.

Gostaria também de entender como todos os opostos do mundo se encaixam tão bem em ti. Não somos almas-gêmeas, afinal. Tu te completas sozinho, na imensidão do teu ser. E eu, eu preciso da tua metade, da MINHA metade. Mas é tão difícil saber em qual beco escuro tu a escondeste de mim...

Saiba que o que buscas, tu já encontraste. Não esperes te ver refletido em outras pessoas, elas não são como você. Eu não sou como você. Nós somos pessoas de uma face apenas. Um lado da moeda esperando o outro, e só. Portanto, pare de machucar o meu coração. O teu coração. O que desejas, já tem nome e formato de pedra. Pedras que eu não consigo remover, pedras que possuem pontas e fazem meus dedos sangrarem... ninguém há de removê-las. Teu coração é TEU lar.

sábado, 6 de setembro de 2008

"I can forget about myself trying to be everybody else..."

Eu quis te conhecer, mas tenho que aceitar.
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá.
Pode ser cruel a eternidade,
eu ando em frente por sentir vontade.


Eu quis te convencer, mas chega de insistir.
Caberá ao nosso amor o que há de vir.
Pode ser a eternidade má,
caminho em frente pra sentir saudade.

domingo, 24 de agosto de 2008

Pensamentos Soltos.

"Então me vens como o vento, e me adentras pela fresta da única porta que havia esquecido de fechar. E me invades, sem pudor algum, e bates em meu rosto, e expões minhas feridas. Depois me deixas, coberta pelo véu das lembranças que arrastaste enquanto te ias."






E se me perguntarem por que escrevo, direi que é pra preencher com palavras a metade que levaste de mim.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.


Manuel Bandeira

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Felizes sejam.

Ela sempre fora assim, diferente. Sempre estivera fora dos padrões. Talvez por isso tivesse cultivado um complexo de inferioridade imenso. Afinal, todas as pessoas que conhecia eram diferentes dela. Todas tão iguais. Todas tão cruéis. E ela não era assim. Passara a vida toda sofrendo por causa dessas pessoas. A vida toda com sua auto-imagem sendo atirada aos porcos. Até que o conheceu. E ele fez tudo mudar, como num passe de mágica. Ele não era como aquelas pessoas, ele gostava dela pelo seu coração, ele também sofrera com a superficialidade do mundo, ele a amava. E ela passou a se amar também, e descobriu-se cheia de qualidades.

Mas as coisas estavam boas demais pra se manterem assim pra sempre. Algo a dizia que uma hora ou outra tudo iria desandar (intuição talvez). E desandou. Por fim, ele era como as outras pessoas. Su-per-fi-ci-al. A wolf in a sheepskin coat, como na música que ele mesmo a mandara.

E tudo voltou a ser como antes. Seu complexo voltou, mil vezes pior. Talvez a alegria de ter sido amada devia ser paga com uma dose extra de dor. "Quem foi mesmo que disse que não podemos ser felizes demais? Talvez estivesse certo..." Felizes são os superficiais, tão preocupados com suas aparências, evitando pensar demais (pois é certo que quem pensa, sofre mais), e fugindo sempre da dor que provém do simples fato de possuir um coração. Eles sim são felizes.

domingo, 27 de julho de 2008

O Quarto.

...e não se vá deixar morrer assim, tão cheio de vida!

Sentou-se ao pé da cama, e pôs-se a observar o quarto. O armário, os muitos livros que tanto a acolheram, "como aqueles velhos amigos que a gente pode passar mil anos sem falar,e eles vão continuar lá pra nos ajudar, sabe?" a guitarra e o violão. O violão que suportou o peso de mil lágrimas, e as escondeu entre seus acordes pra fazê-las mais felizes.

Reviveu os momentos de cada uma das fotos da cabeceira da cama, e recordou com paixão de cada uma das músicas daqueles vinis dos Beatles que ela tanto amava. Folheou a edição de bolso do Manifesto, e se surpreendeu mais uma vez com os problemas do mundo. Sorriu pra foto do Conor que estava sempre do lado da escrivaninha, como se dissesse obrigada, por tanto lhe entender e pôr em palavras tudo que sentia.

Olhou para a caixa de recordações, sempre ali de plantão pra não deixá-la esquecer jamais da delícia de ser criança, e da tamanha transformação que passara de alguns anos pra cá. E entre os tantos bilhetes, desenhos, e o potinho com todos os dentes-de-leite, estava a carta. A carta que lera tantas vezes, procurando arrancar mais algum detalhe escondido, como se disso dependesse a resolução de seus problemas. Releu-a, como se fosse a última vez. E foi a ultima vez. Descobriu que não havia nada a desvendar, que o papel amarela com o tempo, a tinta desbota, e as lágrimas secam. Todas elas.

Vá sentir que viver é mais que pensava.
Larga mão de sofrer a mais, tudo passa.
A estrada não tem fim.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Lua Cheia.


Ninguém vai chegar do mar.

Nem vai me levar daqui, nem vai calar minha viola que desconsola,

chora notas pra ninguém ouvir.

Minha voz ficou na espreita, na espera,

quisera abrir meu peito, cantar feliz.

Preparei para você uma lua cheia,

e você não veio, e você não quis.

Meu violão ficou tão triste, pudera,

quem dera abrir janelas, fazer serão.

Mas você me navegou mares tão diversos,

e eu fiquei sem versos, e eu fiquei em vão.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

O Espelho.

Ela se encontrava ali, sentada diante do imenso espelho. Espelho que ocupava o mesmo lugar havia tanto tempo. Espelho que já refletira no mínimo três gerações de vaidade familiar. E ela ali, sentada. Quisera talvez encontrar sua alma refletida ali. Sua alma, e todo mistério oculto por trás de pele, osso e olhares. Olhares tão vazios.

Se assustou de repente, como se temesse aquele pedaço de vidro. Afinal, ele já havia visto tanto de sua vida. Refletira tórridos romances, refletira suas mágoas, porres homéricos, brigas incessantes. Teve a impressão de estar diante de um velho conhecido, daqueles que sabem melhor da sua vida que você mesmo.
Quis tirá-lo dali, como se temesse a hipótese de ele refletir todo aquele infinito particular pra mais alguém. Xingou-o de mil nomes, e ele a respondia. Podia ouvir cada retaliação, mesmo que silenciosa. Brigava com o espelho, e brigava com si mesma. Temia que sua vida se resumisse a um eco silencioso, a lembranças de imagens refletidas... a um pedaço de vidro.

Chorou. E o espelho lhe chorou de volta. O mesmo que a xingara minutos atrás. Teve raiva, chamou-o de imoral. E insanamente, deu um soco na réplica de si mesma que havia ali. O espelho se partiu em mil, e o líquido vermelho escuro brotou de sua mão. Mas não o pode ver refletido, não em cacos tão pequenos do espelho que gravara lembranças de sua vida. Sangrara sozinha afinal.

Olhou os pingos que formavam uma pequena poça no chão. Olhou a moldura intacta. Lembrou de Picasso, e sua "Jeune fille devant un miroir". E se descobriu tão viva quanto aquele vermelho. Um vermelho cor de sangue.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Novos Horizontes.


Olhou ao seu redor. O entra-e-sai dos ônibus naquela rodoviária era constante. Uma rodoviária recém-construída, feita para ser modelo de modernidade. E ele continuava parado ali.
Sentou-se em um daqueles bancos cheios de curvas. "Feitos para serem modelos de modernidade." pensou. Passou a contemplar cada ônibus que ia e vinha, com uma atenção ímpar, embora ao mesmo tempo aparentasse quase que um ar de indiferença.

Fora ali que tudo começara. E terminara. Simples como o entrar e sair dos ônibus, e tão complexo quanto as linhas curvas daqueles bancos. O porquê de tudo aquilo, ele não sabia explicar nem definir. "Foge do meu controle, sabe?" Era sua resposta decorada para ludibriar seus próprios pensamentos, e a vontade tão grande de voltar no tempo e fazer tudo diferente.

Mas não havia nada a ser mudado. Nada a se acertar, realmente. "Talvez as coisas sejam assim na vida da gente: vem e vão, sempre efêmeras. Como os ônibus." Levantou-se e começou a andar pelos corredores inacreditavelmente tão limpos, embora passassem centenas de pessoas diariamente por ali. Olhou para o lado e observou um grupo de pessoas que se despedia.

Lágrimas rolavam nos seus olhos, ao mesmo tempo em que sorriam aquele sorriso sem graça e corado de quem chora-e-ri. E sorriu também. Pensou na vida, pensou nas lembranças e nos próprios pensamentos. E teve certeza de que a felicidade estava por vir, talvez mais rápido do que pensava. Talvez junto com o próximo ônibus.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

One more cup of coffee for I go...

Levantou-se e caminhou em direção á cozinha escura. "Cozinha tem que ser um lugar claro, Sofia!" Sua mãe sempre dizia. Mas aquela não era. Era escura, e sempre a trouxera uma má impressão. Como se todos os problemas do mundo se multiplicassem ali dentro.

Serviu-se de uma xícara de café e sentou-se. Acendeu um cigarro e ajeitou-se melhor na cadeira, olhando fixamente para o nada. "Podia ter sido diferente", refletiu, entre uma tragada e outra. "Merda, era pra ter sido tudo diferente!" pensou Sofia novamente como que para se certificar de que a idéia não fugiria por entre seus dedos. Tomou um gole do café. "Mas quem disse que as coisas são do jeito que a gente quer?" constatou, enquanto engolia o café que já não estava tão quente quanto deveria.

"Sou gelada por dentro." filosofou Sofia enquanto dava a ultima tragada no que já não passava de uma ponta de cigarro. "Como esse maldito café." Tomou mais um gole da xícara, e o gosto amargo daquele café frio inundou sua boca novamente. Dirigiu-se até a janela. A janela, que segundo todos os seus amigos era a única coisa boa daquele apartamento. "Afinal, era uma vista espetacular da cidade de São Paulo", pensou Sofia. "Exatamente como dizia no anúncio."

Debruçou-se no parapeito da janela, e olhou diretamente para a imensidão de prédios que havia logo embaixo dela. "One more cup of coffee for I go..." Olhou para o céu, poluído diariamente por milhões de carros que passavam por todas aquelas ruas. "To the valley below." Foi a última coisa que pensou antes de ser engolida pelo ar da noite paulistana.

Morreu no meio da avenida e ninguém notou. Todas as vidas continuaram, todos tão preocupados em nascer e morrer. E enquanto isso, um resto de café esfriava em cima da mesa de uma certa cozinha escura...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

No, you WON'T disarm my heart... (or a wolf in a sheepskin coat.)

Eu gostaria de entender como uma pessoa é capaz de renunciar à um sentimento por causa do egoísmo de outras. Um sentimento, muitas vezes imenso, maior até mesmo do que o coração de quem o possui.

Eu gostaria também de entender como pode uma pessoa ser tão egocêntrica e mesquinha, ao ponto de barrar um sentimento do qual ela nunca compartilhou, e também nunca a prejudicou de forma alguma. Muito pelo contrário. Um sentimento que fez certa vida que rodeava a dela imensamente mais feliz.

Ninguém tem o direito de fazer uma coisa dessas,e juro que entendo menos ainda como pode alguém tomar isso como verdade absoluta e seguir à risca. Não entendo como alguém pode ter medo de seguir o próprio coração, e ter coragem suficiente pra mergulhar de cabeça na maldade disfarçada de preocupação de outrém.

Ainda me resta um fio de esperança (embora ele me escape quase que o tempo todo) de que um dia eu vou abrir os olhos e perceber que tudo isso, foram apenas percepções equivocadas. Que na realidade, não foi bem assim, e tudo não passou de um longo e trágico devaneio.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Codinome Beija-flor.



Pra que mentir, fingir que perdoou? Tentar ficar amigos sem rancor. A emoção acabou, que coincidência é o amor... a nossa música nunca mais tocou.


Pra que usar de tanta educação, pra destilar terceiras intenções? Desperdiçando o meu mel, devagarinho, flor em flor... entre os meus inimigos, beija-flor.


Eu protegi teu nome por amor. Em um codinome, Beija-flor. Não responda nunca, meu amor. Nunca. Pra qualquer um na rua, Beija-flor.


Que só eu que podia, dentro da tua orelha fria dizer segredos de liquidificador. Você sonhava acordado, um jeito de não sentir dor... prendia o choro e aguava o bom do amor.




(me identifiquei.)




é, seriam quatro.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Palmas pro pecado.


Desnudei seu amor sem pudor: palmas pro pecado.
Me curvei com o olhar mais pra baixo, naquela direção do céu.

Mastigo o que restou e sobrevivo.
Nas cartas que enviou você se esconde.

Fui o cinza de um mar azul, mergulhei em sua razão e sufoquei.
Suportei por essas manhãs a sua ausência do meu lado.
O vazio não é fácil.

"Teus olhos azuis, traiçoeiros, me indicaram o caminho, eu segui. Era o abismo."

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Todo carnaval tem seu fim.

Odeio carnaval. Odeio. Na minha humilde opinião não há nada mais desagradável do que ligar a TV e ser obrigada a assistir um desfile de peitos nus e bundas rebolando pra milhões de pessoas verem, acharem a coisa mais linda do mundo e aplaudirem.

Eu não entendo como as mesmas mulheres que lutaram tanto a um tempo atrás a favor da igualdade entre os sexos, contra o machismo existente, podem hoje em dia ser meros objetos pra deleite dos mesmos homens que sempre as subjulgaram. Porque pra mim, um homem que assiste a um desfile de carnaval, e o único comentário que consegue fazer é um "nossa, que mulher gostosa" é a personificação do machismo.

Longe de mim querer fazer discursos feministas, ou algo do tipo. Eu só gostaria de entender como mulheres, mulheres como eu, podem se rebaixar à um papel desses. Desde quando somos só peitos e bundas? Desde quando perdemos nossa verdadeira essência e nos tornamos peças de carne expostas em carros alegóricos? Desde quando perdemos o pudor e a sutileza, que tantos poetas citaram ao longo dos séculos? Não acho que precisemos fazer isso para provar nossa independência, para provar que mulheres são iguais aos homens. Não, podemos fazer isso usando o cérebro em vez da bunda."Todo carnaval tem seu fim" ? Graças à Deus!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

É como tocar o céu, mas com os pés no chão.



"Estou tão frágil que até me confundo com o mundo passional, passional.
Somos mais que um quando somos dois.
Mas quando estamos entre tantos não somos ninguém, ninguém."

domingo, 27 de janeiro de 2008

Cotidiano nº 2.

E amanhã começa tudo novamente. As mesmas angústias, os mesmos anseios, as mesmas pessoas, (algumas novas é claro) a mesma rotina. Como estou chegando ao meu penúltimo ano escolar, parei para refletir acerca dessa realidade, que daqui a tão pouco tempo vai ficar pra trás.

Confesso que nunca tinha parado pra pensar como eu vou sentir saudades de tudo isso. De todos os professores, até os que me fizeram chorar algumas vezes. De todas as provas, até as que me fizeram perder tardes inteiras estudando. Quantas vezes reclamei de tudo isso, de ter de ir à escola todos os dias, de professores incapazes, de aulas chatas.

A gente só percebe o quanto uma coisa é importante, quando a perde. Ou então, quando está prestes a perdê-la. Quando paro pra pensar que ano que vem acaba tudo isso, e que eu tenho um vestibular pra prestar, e responsabilidades enormes cairão em cima de mim, confesso que me sinto assustada. Mudanças sempre me assustaram.

Mas junto desse receio vem uma certeza de um futuro lindo, de conhecer pessoas cujo pensamento seja igual o meu, que gostem das mesmas coisas, tenham os mesmos objetivos... qualquer pessoa que me conheça bem sabe que isso é o que eu mais sinto falta hoje em dia.

Podem me chamar de confusa, mas mesmo sabendo que vou morrer de saudades de tudo isso, eu não vejo a hora de chegar lá, no futuro bonito que eu sei que está guardadinho pra mim a partir do momento que eu pisar na faculdade. O que eu acho mais curioso, é toda essa certeza que eu tenho de um futuro bom pra mim, mesmo sendo a pessoa mais pessimista do mundo. Acho que esse é o único lado que eu consigo encarar com otimismo na minha vida. E isso é bom, afinal, não é o futuro que guarda o desenlace de todos os conflitos da nossa vida?

"At the final moment, I cried. I always cry at endings."

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Ensaio sobre a consciência.


Egoísmo. Esse é teu segundo nome, menina. Não tens a capacidade de alegrar-te com a alegria dos outros. Não és a única com problemas no mundo, menina. Todos os têm. Mas és fraca. Fraca. Aprende a lidar com os teus problemas que só assim vais crescer. E acredite, mudar o foco de teus pensamentos não vai te ajudar a torná-los mais suportáveis. Isso gera o oposto,sabes? Só vais pensar mais em tudo que te aflige, e não vais solucionar as coisas assim. Achas que passar o dia chorando vai te fazer sentir bem, menina? Pois te digo: não vai. Isso só prova o quão fraca és. Pensas que o mundo gira em torno de teu umbigo, que teus problemas são caso pra uma assembléia internacional, mas não é assim que as coisas funcionam. O mundo não pára pra que tu te sintas mal. Amor? Que amor é esse, menina? Tu te arrastas pelo chão feito verme, és fraca, sempre fraca. Ergue tua cabeça, prova pro mundo que és forte, pois já perdi a esperança em ti. Aprende que amor maior, é o amor-próprio. Esqueceste dessa verdade há tempos. Se soubesses o tanto de pessoas que se importam contigo, que partilham de toda a tristeza que te corrói, esboçarias ao menos um sorriso. Achas que toda a tristeza do mundo não é nem metade da tua, não é mesmo? És egoísta menina, egoísta. Sei disso. Conheço-te melhor que ninguém. Eu sou você. Uma parte que deixaste para trás e esqueceste de cultivar. Mas eu não preciso de teu cuidado para crescer. posso passar a vida toda em forma de semente dentro de ti, que eu vou estar sempre ali. Vou ser o teu calvário sempre que fraquejares, vou te lembrar de quão fraca és. Sou tua força de vontade, menina. Sou teu orgulho, tua felicidade, tua crença no futuro perfeito que imaginaste um dia. Sou tudo que esqueceste que um dia cresceu dentro de ti.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

there's a world full of "nowhere people"

Fico impressionada em ver como os sentimentos humanos são ambíguos. Cada ato, cada palavra proferida, dá margem à uma série de interpretações que às vezes diferem completamente umas das outras.

Estamos tão habituados com essa nossa peculiar característica, que nos condicionamos, à em uma situação qualquer, enxergar só o que desejamos, quando na verdade, seu significado pode ser algo muito mais intenso e profundo. Mas nós somos imperfeitos, somos sujeitos a erros e acertos, e na minha opinião, a imperfeição de cada ser humano, seus conflitos e soluções, são umas das maiores dádivas que nos foram dadas.

Temos a sorte de sermos imperfeitos. Me desculpem pelo clichê, mas dizer que aprendemos com os erros mas é a mais pura verdade. Se você pedir por paciência, você terá uma oportunidade de ser paciente. Se você pedir sabedoria, terá uma oportunidade de tomar uma atitude sábia. O maior desejo de todo ser humano é conseguir entender perfeitamente o significado de cada atitude, cada palavra de quem se ama. Diariamente nos é dada a oportunidade de lidarmos com os sentimentos das pessoas. O que a maioria não compreende, é que ao analisar uma pessoa, não usamos o cérebro. Cérebro esse, que muitas vezes toma o lugar que deveria pertencer ao coração.

Quem me dera olhar nos olhos de cada pessoa e ver em todas, mais do que somente a retina. Quem me dera, que todos fossem inconsequentes e se esquecessem de usar a razão ás vezes. Quem me dera, que todos soubessem que ás vezes, inteligência é pensar com o coração.


" He's as blind as he can be.

Just see what he wants to see.

Nowhere man, can you see me at all ? "

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo... (que descolorirá.)

Quando eu era criança, no auge dos meus sete ou oito anos, a maior diversão das minhas férias era: comprar material escolar. Sim, eu esperava ansiosamente todo o mês de dezembro (e uma bela metade de janeiro também) pela chegada do grande dia.

Pouco antes dele chegar, como que para acalmar minha ansiedade infantil, eu pegava a listinha de material e grifava caprichosamente tudo o que eu precisaria comprar. O que eu já tinha, era riscado milimetricamente à régua, com caneta preta.

Quando enfim chegava o grande dia das compras, lá íamos nós, meus pais e eu, enfrentar a papelaria lotada de gente, e aquele tumulto habitual que eu, na minha cabecinha de criança achava ser o máximo.

Alguma coisa naquele lugar me fascinava profundamente, mas eu nunca soube bem o que era. Talvez fossem os rolos enormes de papel colorido que quando refletiam o sol lá fora, formavam desenhos legais na parede. Talvez fosse aquele cheirinho que só os lápis-de-cor novos têm, ou talvez fossem até mesmo aquelas borrachinhas coloridas de formato diferente. Eu realmente não sei.

Só sei que por mais que os anos passem, nem lista de material eu tenha mais, e não use nem papéis coloridos nem lápis-de-cor na escola, se você reparar atentamente, você ainda vai perceber um brilho diferente no meu olhar toda vez que eu entrar em uma papelaria lotada de gente.

"essa menina não quer mais saber de mal-me-quer..."


Era uma vez uma menina. Uma menina qualquer, numa cidade qualquer. Uma menina igual a tantas outras que existem por aí. Essa menina acreditava em contos-de-fada. Acreditava também em todo aquele amor clichê que enche os olhos de quem vai aos cinemas. Mas um dia, a menina descobriu que nem todos os filmes de amor têm finais felizes, e que os contos-de-fada não foram feitos para enfrentarem problemas de menina comum. "contos-de-fada são feitos para meninas de contos-de-fada, e certamente elas não têm nem um quarto bagunçado, nem provas de matemática como você." Mas apesar de tudo isso, era tão bom sonhar... E a menina continuou a acreditar que meninas comuns feito ela podiam sim dividir a sua vida entre provas e finais felizes, e que sim, em algum lugar existia um príncipe que não viraria sapo ao enfrentar o primeiro problema, e que o amor é possível, até mesmo pra ela. Até mesmo soando tão demodê.