sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

perdoem-me,
se vejo arte em tudo.
na lata do lixo,
no rosto oprimido,
no sofrimento,
na cara lavada.

eu gosto é do errado.
dos bêbados,
dos loucos,
da poesia pichada.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

amor.

o amor
são dois olhos
tão verdes
que me olham
sem dizer nada.

o amor
que é um tema
tão banal
na poesia & no cinema,
nas músicas & na tv,
nas novelas
daquele canal.

já disseram
que o amor é falta
e que amor
com amor se paga
me desculpem,
isso não basta.

o meu amor
são dois olhos
tão verdes
que me olham
sem dizer nada




e que dizem tudo.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

nem os livros & os filmes
os incensos & são jorge
nada
dá jeito
nesse vento
nesses dias cinzas
quando a gente
fica sozinho.

bate na cara
e seca meus olhos
& a boca
esse vento gelado
esses dias cinzas
e eu me pergunto
cadê o sol

o meu medo
e minha angústia
são lembranças
desses dias
tão confusos
das unhas roídas
do vento & da casa
gelados.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Hummingbird

Ela era diferente. Do alto de seus cabelos castanhos até as unhas dos pés pintadas de vermelho, ela era diferente. E tinha os olhos mais verdes que já vi. Não sei quantos anos tinha, mas não eram muitos. De onde veio, não sei dizer. Trabalhava num daqueles cafés pequenos do centro da cidade, onde o proletariado se reunia antes de começar o expediente. Eu era um deles, e foi assim que a conheci.

Quando a vi pela primeira vez, senti algo estranho naquele olhar, sem saber o que era. Quis abraçá-la. Contive meus impulsos e me limitei a agradecer o expresso que ela havia trazido.

No dia seguinte, voltei. Não sei por que fiz isso, existem muitas opções por ali. Mas algo naquelas paredes azuis levemente descascadas parecia exercer uma espécie de magnetismo sobre mim. Ao entrar, já a avistei. Sorri pra ela, que me retribuiu com o mesmo olhar do dia anterior. Tinha passarinhos aprisionados naquele olhar, tenho certeza. Tomei meu café e fui embora.

No outro dia, nem hesitei. Rumei decidido, me sentei e fiz meu pedido, enquanto observava aqueles dedos finos correrem de lá pra cá no bloquinho para anota-lo. Pareciam tão frágeis. Parecia tão frágil. Quis abraçá-la.

Dessa vez, não esperei até de manhã. Ao fim do expediente, corri para o café. Encontrei-a com as chaves na mão, prestes a fecha-lo. Segurei – a pelo braço, ela olhou pra mim. Pude ouvir os passarinhos cantando. Sorriu e se foi.

Na manhã seguinte, já não estava mais lá. Perguntei para todos sobre passarinhos, e um par de olhos tão verdes sem nome. Ninguém soube me responder. Ao sair, um beija-flor pousou no meu ombro. “Remember to remember me, standing still in your past, floating fast like a hummingbird.” E sorri.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sobre as palavras. (de mim à mim mesma)

Palavras. De que te servem agora, as palavras? Elas não preenchem teu vazio. Elas não vão te botar no colo e dizer: calma calma vai ficar tudo bem tristeza é coisa passageira seja feliz muito feliz. Não vão. Não te servem de nada as palavras, do mesmo modo que não te serve de nada saber lidar com elas. Não adianta manipular as palavras, elas não vão construir uma realidade ideal pra você. Elas só vão expôr seus medos. É isso que elas fazem. Expôem seus medos para quem se dispôr a decifrá-las. E os outros, os outros não entendem. Nem o seu vazio, nem o seu medo, nem as suas palavras.


As palavras não são suficientes para acalmar seu coração tão atribulado. Elas só registram a sua dor sem curá-la. Um retrato cruel e fiel da realidade. E como um retrato, só têm uma função: captar, sem no entanto compreender.


Elas se alimentam da sua tristeza, precisam da sua agonia pra nascer. Já percebeu que todos os escritores são infelizes? Eles precisam dessa tristeza. É dela que as palavras vivem. Quanto mais tristeza, mais bonitas elas surgem. E você não quer ser infeliz.


Aprenda que só você é capaz de preencher esse vazio. As palavras são suas amigas mais traiçoeiras. Quando você mais precisar, elas vão faltar. Não vão querer sair. Vão ficar presas, e formar um nó na sua garganta. Um nó que sufoca, e mata.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

no ano que vem.

Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na lagartixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.


Caio F. Abreu

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

29-12

i fell in love at the seaside.